25 de Abr, 2024
Pela cura de amigo, trio caminha 60 km carregando santa enfrentando escuridão e chuva
19 de Out, 2021

Por Fabio Pellegrini

 

No dia 12 de outubro, enquanto muitos curtiam o último dia do feriadão emendado de criação de Mato Grosso do Sul com o Dia da Padroeira do Brasil, três amigos de Coxim – Zorildo Souza, Hewerton Albuquerque e Hugo Silva Galvão - realizaram uma caminhada de 60 quilômetros em propósito da cura de um câncer de um amigo, o proprietário rural José Frazão.

 

Zorildo, conhecido como “Zorro”, havia feito uma promessa: “Ele queria desistir do tratamento, porque é idoso. Eu havia dito que se ele vencesse o câncer na garganta eu levaria a Santa para ele por longa caminhada. Um dia estávamos juntos e o Hewerton e o Hugo toparam a ideia”.

 

Hewerton conta que tudo começou durante um churrasquinho: “Estávamos lá aí surgiu a conversa sobre seu Zé, como ele estava, se tinha melhorado, aí foi quando a esposa do Zorildo comentou que ele tinha feito uma promessa que se o seu Zé se curasse, ele iria levar a imagem de Nossa Senhora Aparecida até a fazenda dele. No começo pensei ‘Puts, ele é louco!’, mas falei ‘Também vou, você não vai sozinho’. Daí então começamos a fazer caminhadas uns dois meses antes, preocupados se íamos aguentar ou não, mas com fé de que chegaríamos bem ou se arrastando”.

 

Hugo, que é genro de José Frazão, conta que, quando foi diagnosticado o câncer, a família ficou muito preocupada: “Minha esposa chorou muito, mas eu falei que tínhamos de ter fé, que o pai dela é um homem de muita fé em Nossa Senhora Aparecida. Começamos a ir a Campo Grande fazer o tratamento e começamos a perceber que estava tendo uma melhora, ate os médicos comentavam. Era pra largar o couro do pescoço em duas semanas, mas foi diferente, só deu uma queimada no pescoço dele, e a recuperação dele foi surpreendente. Nesse meio tempo fizemos esse propósito com os amigos”.

 

 

O Grande Dia

 

A véspera do Dia de Nossa Senhora Aparecida era o grande dia, conforme relata Hewerton: “Estávamos muito nervosos, preparamos os mantimentos, os líquidos para nos manter hidratados e energizados, nossos familiares acompanharam nossa saída nos dando força, então saímos eu, Zorro e o Hugo, que nos deu muita força também, um pessoa muito boa também que foi conversando e cantando nas horas mais difíceis da caminhada”.

 

O grupo iniciou a jornada no entroncamento da BR-163 com a BR-359 às seis da tarde, para evitar o sol forte. No dia seguinte estava prevista uma missa na fazenda do sr. José Frazão. No início, tudo corria bem, um pouco de chuva com uma grande ameaça de temporal.

 

Percorridos mais de 20km, início da madrugada, Zorildo começou a sentir um tornozelo. Daí para o psicológico abalar, faltava pouco. Hugo, que terminou recentemente a carreira de sete anos de Exército, e é músico, tentava animar os companheiros cantando. Hewerton começou a se preocupar com Zorildo. “Pegamos chuva, os pés calejaram, nos apoiamos um no outro”, disse ele.

 

Um amigo apareceu de carro para acompanhar por um trecho e manter os ânimos elevados. Heverton conta que tudo ficou muito sério quando viu Zorro chorar. “Pensei ‘Putz, ele já está no limite dele pra ele estar chorando! Hugo o abraçou e falou ’Bora, Zorrão, você é o cara! Bora que você aguenta!’ Então puxei a frente para que o ritmo não baixasse tanto, e gritei ‘Bora, bora, é assim mesmo. Vai doer, mas você consegue’. E assim continuamos. Eu olhava para trás e via ele chorando com uma cara de dor que eu nunca tinha visto e assim foi toda a noite”.

 

Ao amanhecer Zorildo revelou que não aguentava mais. O temporal os rodeava. Se aquela água toda caísse, a situação ia piorar. Com o piso e as botas encharcadas, certamente a marcha ficaria mais pesada. Os companheiros também estafados não queriam mostrar fraqueza e incentivam Zorildo a terminar, mas torcendo para não chover. Quando já estavam a cerca de dois quilômetros da fazenda do sr. José Frazão os convidados passavam de carro e moto indo para a missa e gritavam palavras de fé e apoio moral.

 

“Aquilo de uma certa forma nos fortaleceu”, conta Hewerton. “Foi então que chegamos na última parte da caminhada, todos muito cansados. O Zorro quase parando, até que o pessoal que estava lá na fazenda veio ao nosso encontro nos acompanhar nos últimos metros”. Depois souberam que o padre aguardava o trio para iniciar a missa.

 

 

“Faltava mais ou menos um quilômetro, veio um monte de gente ao nosso encontro. O Hewerton dando apoio ao Zorildo. Eu subi na porteira, comecei a gritar de alívio e dando força pra eles. Tiramos a santa do suporte, cada um de nós três pegamos e entregamos ao sr. Frazão. E quando a gente pisou o pé na varanda a chuva caiu. Parecia que Nossa Senhora Aparecida estava segurando a chuva pra gente chegar. Porque se tivesse chovido durante a marcha seria pior pra gente”, conta Hugo, emocionado.

 

“Foi muito emocionante tudo aquilo. Eu nunca tinha passado por isso. A energia da galera nos dando força foi o que faltava para que nós conseguíssemos terminar o percurso. Chegando lá dei um abraço no Zorro e falei: ‘Sabia, meu amigo, que você ia conseguir! Aí nos juntamos os três para entregar a imagem para nosso amigo agora curado do câncer. Esse momento foi surreal. Entregamos a imagem quando percebemos estávamos todos chorando emocionados. Olhei ao redor não tinha um que também não estava chorando. Fiz isso e faria de novo se fosse necessário”, relata Heverton.

 

Os três se emocionam ao relatar o episódio: “Chegando lá foi lindo. Tinha uma missa com mais de 60 pessoas. Foi emocionante. Não teve um que não chorou”, conta Zorro.

 

Para ele, com 42 anos, as trilhas de longo percurso não são novidade: a primeira experiência dele foi de Coxim a Aquidauana pelo Pantanal, de bicicleta, também pagando uma promessa, levando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida que curou outro amigo de um câncer no cérebro.

 

“Daí veio a ideia do projeto Pedalando e Conscientizando. Eu dava palestras em escolas, praças, rádio, sobre consciência ambiental e o perigo das drogas para crianças e jovens. Aí viajei para Alcinópolis, Costa Rica, Rio Verde, São Gabriel, Jardim, Guia Lopes, Bonito, Miranda. Depois fui a Sonora e subi até o norte do Mato Grosso”, conta ele.  

 

Ainda em recuperação da última jornada, Zorro dá sinais de que vem mais por aí. Tudo pela fé e pela saúde dos amigos.

 




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