Texto e fotos: Fabio Pellegrini
A Associação Espaço Manancial realizou, na quinta-feira (21), uma expedição parte de um projeto de resgate do patrimônio cultural da Rota das Monções - um ciclo secular de migração para o interior do Brasil, ocorrido entre 1720 e 1830, que foi determinante na consolidação da fronteira oeste do Brasil.
A jornada, que envolveu artistas, acadêmicos, gestores públicos, ambientalistas, pescadores, entre outros, iniciou-se na Praça Zacarias Mourão, no centro de Coxim, às seis da manhã, com deslocamento em ônibus ao distrito de Jauru, a “Vila dos Diamantes”.
No distrito, a 60 km de Coxim, os convidados conheceram a realidade do garimpo artesanal que ocorre ali há séculos. No início do século passado, à época do Mato Grosso uno, a região de Coxim era grande produtora de diamantes. Hoje em dia, o garimpo artesanal é mais um lazer para os remanescentes e moradores locais, que volta e meia encontram alguma pedra valiosa.
O ex-garimpeiro Odesvaldo Celestino mostrou a prática com as ferramentas utilizadas para colher o cascalho do rio Jauru e procurar as pedras preciosas. Um trabalho árduo que já levou muitos homens à riqueza no passado, e que nos dias de hoje fica somente na lembrança da vila que já foi bem mais populosa e agitada devido à atividade.
Foto: Guilherme de Paula /Salt Media
Dentro do conceito de turismo de base comunitária a que se propunha o projeto, os visitantes almoçaram na residência de dona Adelina Lopes e do senhor João. Uma saborosa comida caseira feita no fogão à lenha, com porco e galinha caipiras, mandioca, feijão, arroz e salada, tudo da produção familiar local.
As intervenções artísticas ficaram por conta da membros da Trupe Monçoeira, composta pelos músicos Kurikaka e Makako (viola e caixa), Toninho (violâo), o poeta Adelino Alexandre Lopes e o ator Luiz Alberto recitavam poesias que ressaltam a cultura e a história local. Moradores locais e pescadores contaram “causos” e fatos ocorridos ao longos dos tempos no caminho fluvial histórico.
À tarde durante o passeio fluvial pelos rios Jauru e Coxim, os visitantes puderam vivenciar a prática da portagem, quando os piloteiros dos barcos têm de segurar com cordas as embarcações para transpor as corredeiras e cachoeiras, mostrando a destreza dos pescadores coxinenses contratados pelo projeto.
Em pontos estratégicos, como na barra do ribeirão Caracol, de águas cristalinas, e na barra do Jauru, os visitantes ouviam relatos sobre a história sobre as situações vividas pelos navegadores do passado, que enfrentavam o combate dos povos nativos e as dificuldades de navegação que muitas vezes resultavam em trágicos naufrágios.
Na Cachoeira do Quatro Pé, o sítio histórico Letreiro das Monções, registrado e protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural (IPHAN), em que constam inscrições deixadas pelos expedicionários dos séculos XVIII e XIX, impressionaram os viajantes da atualidade.
Por fim, já próximo de Coxim, um colorido poente fechou a jornada que certamente ficará na lembrança de todos. O desembarque final da expedição ocorreu no rio Taquari, no porto da antiga Colônia dos Pescadores, já à noite, finalizando um dia inteiro de experiências riquíssimas que ficarão na memória de todos os participantes.
A diretora-geral do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) campus Coxim, Profa. Dra. Angela Kwiatkowski, uma das convidadas do projeto, relata que há dez anos vive em Coxim e há algum tempo ouvia sobre a história da Rota das Monções.
“Tive a oportunidade de participar deste passeio e poder observar a grande riqueza histórica que ainda tem no caminho da rota das monções. Conhecer sobre a história na prática, com todos os elementos ali sendo mostrados, apresentados pela equipe do projeto, perfazendo o caminho que era feito antigamente, é como reviver um pouco da nossa história. Além das monções, tem toda a história do garimpo, contada pelas pessoas que vivem ali em Jauru, assim como é apresentado a forma que é realizado o trabalho de garimpo no local, assim como as instalações dos garimpeiros”, relata a professora doutora.
“Ter esse contato com as pessoas que vivem ali no local também faz parte do passeio, e melhor ainda, tivemos o almoço feito em fogão a lenha que traz toda uma lembrança da infância. O passeio é magnifico e esplendoroso, passar pelo rio Jauru, rio Coxim e por último o rio Taquari com as embarcações ao entardecer foi algo marcante e registrado por fotos e vídeos para que eu possa ser multiplicadora de tudo que vivenciei neste dia”, resumiu Angela.
O projeto “Resgate, Promoção e Valorização do Patrimônio Cultural Sul-Mato-Grossense através da temática histórica da Rota das Monções no Rio-Cênico Rotas Monçoeiras e seu entorno”, é realizado pela OSC Espaço Manancial, em parceria com o Estado de Mato Grosso do Sul, por intermédio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar – SEMAGRO, e do Fundo Estadual de Defesa e de Reparação de Interesses Difusos Lesados – FUNLES, por meio do Edital de Chamamento Público SEMAGRO/FUNLES nº 001/2021.
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